domingo, 27 de abril de 2014

Por que meu pâncreas não produz insulina?

Freqüentemente no consultório recebo pacientes com diabetes tipo 1 de longa duração. O fato interessante é que a grande maioria dos pacientes não sabe ao certo como o diabetes se desenvolve, mesmo sendo portadores  há muitos anos.   
Para começar a explicar devemos relembrar do sistema imunológico. Este sistema imunológico é responsável pelas defesas naturais de nosso organismo contra vírus, bactérias, vermes,  etc. Com ele nós entramos em contato com inúmeros agentes infecciosos a cada minuto sem desenvolver qualquer tipo de sintoma.  Apenas para dar um exemplo, o sistema imunológico funciona como se fosse um policial que protege nosso organismo.
No caso do diabetes tipo 1, o sistema imunológico ficou louco. É isto mesmo! Em vez de ele somente proteger o nosso organismo ele resolve também atacar as células produtoras de insulina localizadas no pâncreas chamadas células β. Este fato é denominado autoimunidade. Com isto, as células β são destruídas e não produz a insulina tão necessária para a nossa sobrevivência.
Ninguém sabe ao certo o motivo pelo qual o sistema imunológico resolve atacar o próprio organismo, as células β.  O que se sabe é que a culpa é 30% da genética e 70% dos fatores ambientais.
Atualmente a teoria mais aceita para o desenvolvimento do diabetes tipo 1 é a seguinte:  
Há tempos atrás (meses ou anos) o paciente entra em contato comum determinado vírus que tem semelhanças com as células β produtoras de insulina. O sistema imunológico então começa a destruir os vírus porém, devido à grande semelhança entre o vírus e as células β, o sistema imunológico começa equivocadamente a agredir as células β.
Fato interessante é que conforme frisado acima este processo de auto-destruição se inicia meses a anos antes da eclosão dos sintomas.  A massa de células β é gradualmente destruída até que o percentual destruído é tão grande que a capacidade secretora de insulina se reduz muito e se iniciam os sintomas como beber muita água, urinar muito e perder peso.
O que não sabemos até hoje é quais são os genes exatamente relacionados ao diabetes tipo 1  e por que alguns pacientes desenvolvem o diabetes e por que outros pacientes não desenvolvem.  Não sabemos também quais vírus ou outros agentes que desencadeiam este processo.

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Diabetes e Tuberculose: uma epidemia silenciosa e pouco reconhecida!


Há cerca de 2 meses atendi um paciente diabético em meu consultório que se queixava de tosse seca e indisposição leve. Ele já era meu paciente há vários anos e disse que ele que poderia se tratar de uma gripe que deveríamos observar. Ele manteve apetite normal, conseguia fazer exercícios e trabalhar normalmente. Entretanto, com o passar das semanas os sintomas continuavam. Devido à persistência dos sintomas aprofundei os exames e para minha surpresa dei o diagnóstico de tuberculose para este paciente. Havia um bom tempo que não atendia um paciente com tuberculose resolvi rever os dados científicos da associação entre tuberculose e diabetes.

Dados epidemiológicos recentes apontam para a associação de 2 epidemias silenciosas:
a epidemia de DIABETES e a de TUBERCULOSE.

Esta associação é ainda mais preocupante quando detectamos que a  maioria dos casos de tuberculose do mundo se encontra em países em desenvolvimento (países que concentram 80% dos casos de diabetes em adultos no mundo).

Considerada como uma doença "ruim"e letal no início do século XX, muito estigma sempre existiu sobre o portador da tuberculose. Felizmente com a melhora das condições sanitárias e com o desenvolvimento dos antibióticos a tuberculose passou a ser uma doença controlada e curável.

Um fato novo porém fez elevar os números de casos de tuberculose na década de 80 e 90: a AIDS. Como os portadores da AIDS possuem deficiência imunológica eles ficam mais suscetíveis à tuberculose e com isso começou a haver uma nova epidemia mundial. Este epidemia foi novamente controlada com melhor tratamento e prevenção da AIDS mundo afora.

Recentemente epidemiologistas detectaram uma nova associação: a da tuberculose e diabetes.

Não temos dados atuais brasileiros e por isso citarei alguns dados internacionais. Na Índia, em 2010 estima-se que cerca de 12,6% dos casos de Tuberculose ocorreram em pessoas diabéticas e isto representa cerca de 250.000 novos casos somente naquele ano. A tendência é que em 2030  erva de 16% dos diabéticos indianos adquiram tuberculose.

Dados semelhantes são vistos na China e em países africanos e todos com tendência de crescimento até 2030.

Para entender melhor esta associação entre diabetes tuberculose, especialistas se reuniram em Londres em Abril de 2013 para criar ume tudo chamado TANDEM. Por meio deste estudos poderemos saber qual a melhor maneira de fazermos a pesquisa de tuberculose nas pessoas com diabetes e também rastrear diabetes nas pessoas com tuberculose.
Apesar de sabermos que a pessoa com diabetes ter maior predisposição a infecções, o estudo TANDEM tentará elucidar os mecanismos exatos que levam a união nefasta destas 2 doenças.

Vamos aguardar os resultados nos próximos anos.

Enquanto isto, devemos ficar atentos com sintomas de tosse persistente por mais de 3 semanas associada a sintomas como perda do apetite, febre, desânimo e fraqueza.

E não custa nada relembrar: ter uma alimentação saudável e uma atividade física regular, associados a um adequado controle glicêmico ajudam a prevenir inúmeras doenças.


Leia mais sobre vacinação contra pneumonia e contra gripe  no link abaixo.


http://carloseduardocouri.blogspot.com.br/2011/10/pacientes-diabeticos-devem-receber.html



Faltam remédios para tuberculose no SUS em julho de 2014.
http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/2014/07/03/15102091-remedios-contra-tuberculose-estao-em-falta.html