segunda-feira, 7 de março de 2016

Por que uma pessoa desenvolve o diabetes tipo 1? Uma resposta ainda longe de ser conhecida!



Esta pergunta é feita a mim diariamente no consultório e por isso resolvi trazê-la para esta discussão.

Como todas as doenças, no início o portador tende a negá-la. A pessoa simplesmente acha que não possui a doença e passa a desprezá-la. Com o passar do tempo, percebe-se que é real a presença de uma determinada doença e então vem a fase de "raiva", a fase em que perguntamos "por que eu?",  "Há tantas pessoas ruins no mundo porque logo eu fui escolhido para ter esta doença?".

Vale ressaltar que sempre achamos que a pior doença do mundo é aquela que nós temos. Para cada um de nós, a doença do vizinho é sempre mais branda que a nossa.

Passadas estas fases, o jeito mesmo é encarar de frente e tratar a doença e viver a vida da melhor forma possível. A instrução sobre a doença e seu reconhecimento faz com que tenhamos menos medo do futuro. Quanto mais informações nós temos, com mais força encaramos nossas doenças.

Com relação ao diabetes tipo 1, todos sabemos que se trata de uma doença autoimune, ou seja, as células do sistema imunológico do indivíduo destroem (de maneira equivocada) as células beta produtoras de insulina localizadas no pâncreas (leia mais sobre a autoimunidade clicando aqui).
Vale lembrar que normalmente o sistema imunológico tem o papel de nos defender contra agentes maléficos como por exemplo vírus, bactérias, fungos, etc.

Mas por que isto acontece? 

Existem várias hipóteses para que o sistema imunológico comece a destruir nosso próprio organismo: uma delas se refere ao fato de termos tido uma infecção no passado e que o micróbio em questão é parecido com alguma molécula da células beta. Isto faz com que nosso sistema imunológico  "se engane" e destrua as células beta erradamente.

O contato com o leite de vaca desde a infância  também é tido como uma causa em potencial do diabetes tipo 1, entretanto, estudos clássicos foram feitos avaliando crianças que ingeriram leite de vaca e também crianças que nunca ingeriram este produto e viram que a incidência de diabetes tipo 1 é igual em ambos os grupos.

Outro fator amplamente discutido é a genética. Entretanto, sabemos que os fatores genéticos têm pouca ligação com o diabetes tipo 1, fato este comprovado pelo fato de não ser tão comum a existência de muitos membros da mesma família com diabetes tipo 1.

Atualmente uma das teorias mais aceitas é a Teoria da Higiene: com o passar dos anos, temos tido mais cuidados sanitários, menos contato com bactérias e até mesmo com a sujeira. Com isto, nosso sistema imunológico, na ausência de ter alguém para "brigar" , começa a destruir células do próprio organismo como as células beta.

Vale à pena destacar que fatores emocionais e estressantes como desastres, separações, falecimentos, etc não têm ligação com a causa do diabetes tipo 1.

Em suma, até o momento, em pleno século XXI ainda não temos idéia do que desencadeia o diabetes tipo 1. Acho que não é uma tarefa fácil mas diversos pesquisadores no mundo todo estão se empenhando em descobrir.

Somente descobrindo a causa do problema poderemos criar ferramentas e estratégias realmente eficazes na prevenção desta doença.

Vamos em frente!!!!



Acesse também outras matérias

Quais os critérios para participar das pesquisas com células-tronco para diabetes tipo 1?
http://carloseduardocouri.blogspot.com.br/2013/03/por-que-o-transplante-de-celulas-tornco.html


Programa "Como Será"da Sandra Annenberg fala sobre transplante de células-tronco para diabetes.
http://carloseduardocouri.blogspot.com.br/2015/05/programa-como-sera-de-sandra-annenberg.html

Jornal do SBT fala dos 10 anos da hitória do transplante de células-tronco para diabetes, desenvolvido pioneiramente no Brasil.
https://www.youtube.com/watch?v=0d4n2roF5sA&feature=youtu.be




domingo, 6 de março de 2016

Quais são os critérios iniciais para participar das pesquisas com células-tronco para diabetes tipo 1 da USP - Ribeirão Preto?


É com muita satisfação que o Brasil é pioneiro mundial no uso de células-tronco para diabetes tipo 1. Nossas pesquisas se inciaram em 2003 e seguem até hoje. Infelizmente não promovemos cura mas sim tentamos uma maneira inovadora e singular na sua abordagem.
Como mostramos bem, tratam-se apenas de pesquisas e muito teremos que estudar para chegar em qualquer conclusão.
Vale destacar que nossa equipe da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - USP é enorme e montada pelo Prof Júlio Voltarelli. Temos na equipe enfermeiros, auxiliares de enfermagem, terapeutas ocupacionais, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, médicos de outras especialidades, ou seja, somos um grande time.
Atualmente o grupo geral está sob coordenação da Dra Belinda Simões, juntamente com a Dra Maria Carolina Oliveira. Nossos estudos foram aprovados pelo FDA e disseminados  e replicados na Europa e Ásia. 

Para ser voluntários são necessários preencher inúmeros critérios de inclusão sendo que os iniciais são:
Idade entre 18 e 35 anos;
Diabetes tipo 1 há menos de 6 semanas.

Por que o transplante de células-tronco não é cura para o diabetes tipo 1 ?

Desde as primeiras notícias na mídia leiga sobre os estudos de nosso grupo da USP-Ribeirão Preto, muitas pessoas fazem um link entre transplante de células-tronco e cura do diabetes tipo 1. É óbvio que a cura é o principal objetivo de qualquer médico ou pesquisador.

Devemos nos lembrar porém que o diabetes tipo 1 é uma alteração crônica da glicemia e da secreção de insulina e seu tratamento baseia-se em alguns pilares que são:
1- Compreensão  e aceitação da doença;
2- Alimentação saudável;
3- Exercícios físicos regulares;
4- Insulinoterapia;
5- Monitorização de glicose

Como se pode ver, o que conseguimos no transplante até hoje é suspender o uso de insulina em vários pacientes ao longo do tempo. Porém, em nossas pesquisas, recomendamos veementemente que nossos pacientes mantenham a atividade física regular, alimentação saudável e medição regular das glicemias capilares.

Temos pacientes que ficaram livres de insulina por longo período e retomaram o uso de insulina novamente. Certamente, em muitos casos, se o paciente tivesse seguido as recomendações adequadamente ele conseguiria ficar ainda mais tempo sem usar insulina.

Com muita frequencia recebo no consultório pacientes diabéticos ou seus familiares dizendo que procuram o transplante de células-tronco porque não aceitam o diabetes e querem viver sem ele. Nestes casos, faltam-lhes o alicerce básico para o correto tratamento do diabetes e sem isto não podemos fazer nada.

O transplante de células-tronco não é uma fuga, mas sim uma pesquisa muito séria que avalia uma das principais promessas da humanidade no tratamento de uma doença comum que é o diabetes tipo 1.

Quem nos procura tentando viver a vida chamada "normal" geralmente comete um grande engano. Estas pessoas muitas vezes acham normal comer doce e açúcar diariamente; acham normal comer aqueles biscoitinhos condimentados repletos de gordura e sal; acham normal comer fast-food com frequencia; acham normal ser sedentários e comer coxinha e esfiha no recreio da escola; acham normal almoçar e repetir o prato 2 ou 3 vezes e nem sequer comer uma verdura ou um legume.

O que nós queremos é que nossos pacientes tenham uma vida saudável e com qualidade de vida, níveis de glicemia adequados e muita disposição para viver aceitando o diabetes e não vendo-o como um inimigo, mas sim como um aliado. Tenho muitos pacientes que melhoraram muito de vida após o diabetes. Graças ao diabetes que eles hoje se preocupam mais com uma vida saudável. 

Vamos refletir...


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