domingo, 25 de setembro de 2011

Victoza para tratamento de obesidade?

Não há dúvida de que a obesidade é o maior ou um dos nossos maiores desafios no campo da saúde nos últimos tempos. Cerca de metade de nossa população está acima do peso e a obesidade é a porta de entrada para o surgimento de diversos males como diabetes tipo 2, hipertensão, colesterol e triglicérides alterados, apnéia do sono, risco aumentado de desenvolver alguns tipos de câncer.

Felizmente parece que todos sabemos o motivo de tantos indivíduos obesos:
- Alta ingestão de gorduras, frituras;
- Ingesta de grande quantidade de alimentos no geral;
- Sedentarismo;
- Baixa ingesta de frutas, verduras e legumes;
- Disseminação de lojas de fastfood;
- Horas a fio em TV, computadores e jogos.

Não obstante, muitos querem um tratamento rápido, fácil, indolor. Todos querems um milagre... Em outras palavras: queremos ser emagrecidos e não emagrecer.

É claro que a obesidade é uma doença crônica e isto não significa que os obesos sejam "fracos" por não conseguirem reduzir a ingesta de alimentos. Como outras doenças crônicas, a obesidade pode ter como opção o uso coadjuvante de medicamentos. Repito: COADJUVANTE.

Muitos pacientes pensam erradamente que os remédios substituem reorientação alimentar e exercícios regulares.

Muitos tratamentos ganham notoriedade, entretanto. Desde chás a dietas estranhas até remédios da indústria farmacêutica multinacional. Neste sentido, ultimamente muito se falou do uso de Liraglutide (nome comercial Victoza). Trata-se um remédio utilizado como injeçao subcutânea uma vez ao dia. Dentre os possíveis efeitos adversos que podem estar relacionados a este remédios temos: pancreatite,náuseas, vômitos e risco de câncer de tireóide (este último observado apenas em animais).

Estudos com Victoza se mostram muito promissores para perda de peso. Entretanto, vale lembrar que ele é aprovado no mundo todo e no Brasil para tratamento de diabetes.Repito: Diabetes.
O fato de ter um ou outro estudo em obesidade não significa que devamos utilizá-lo com este fim. Devemos esperar um grupo concreto e reproduzido de bons resultados em estudos para passar a indicá-lo de rotina no consultório para tratamento de obesidade. Temos que tomar cuidado para não queimar etapas científicas tendo como desculpa o fato de que a obesidade é uma epidemia. Os fins não justificam os meios.


Em resumo: - Victoza é um remédio para diabetes;
                   -  Estudos em obesidadade ainda são preliminares e parecem ser bem positivos;
                   - Mais dados serão necessários para a liberação por bula para ser usado para tratar exclusivamente obesidade;

Torço muito pela aprovação do Victoza para obesidade, mas vamos aguardar o desenrolar dos estudos em obesidade e duvidar de milagres, quaisquer que sejam eles!

domingo, 18 de setembro de 2011

Você sabe o que é Smart Insulin?

Enquanto pesquisadores do mundo todo procuram uma maneira de reverter o diabetes, novos medicamentos e formas de administração de insulina têm sido desenvolvidos em paralelo.

Uma das técnicas recentemente desenvlvidas chama-se Smart Insulin (traduzindo: insulina inteligente).
Em termos básicos, trata-se de um polímero que contém insulina (linha laranja na figura abaixo)  ligada a moléculas de glicose (hexágono laranja).Quando a glicose no sangue do paciente se eleva a insulina anteriormente ligada ao polímero de glicose passa a se "descolar" desta estrutura  e começa a ser absorvida pela corrente sanguínea.

A Smart Insulin é injetada por via subcutâneaamada de  uma vez ao dia. Mas por que ela é chamada de inteligente? Porque ela é liberada automaticamente de acordo com o valor da glicose no sangue.  Em outras palavras: se a glicose está alta, a insulina é libeada e se a glicemia está baixa, não há liberação da insulina. Além disso, evita que o paciente faça contagens rígidas de carboidratos, tenha menos hipoglicemia e evita múltiplas injeções de insulina ao dia.

Acesse o site da empresa que desenvolve produto em http://www.smartinsulin.com/ .

Vamos aguardar o andamentos desta pesquisa... 

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Lançamento do Livro "O Futuro do Diabete"

Não temos dúvida de que a maior arma para combater o Diabetes é a informação, pois o Diabetes tem duas características que o tornam uma doença extremamente perigosa:
1- É uma doença sienciosa;
2- É repleta de mitos.

Digamos que metade do tratamento depende dos conhecimentos técnicos do médico e metade depende da colaboração do paciente.

Muitos pacientes procuram "curas"; procuram algum tratamento comprovado ou não para voltar a ter aquele estilo de vida ruim de antes, como sedentarismo e alimentação desregrada e desmedida.

Há também muitos pacientes querendo saber as novidades e também sedimentar bem o conceitos clássicos do tratamento do diabetes atual.



Por isto, o livro "O Futuro do Diabete" , da Editora Abril e de iniciativa da direção de redação da Revista Saúde, tem por objetivo mostrar e explorar bem os conceitos atuais do tratamento e dar uma pitada no que está por vir em termos de tecnologias, novas vias de aplicação de insulina e novas biologias em p´rol do paciente diabético.

É bom deixar claro: este livro definitivamente não é para aqueles que negam o diabetes e que querem se livrar dele a qualquer custo.

O lançamento será dia 30 de julho, sábado, na Livraria Para Ler no Ribeirão Shopping (Ribeirão Preto)

Ele será distribuído para bancas e livrarias de todo o Brasil após o seu lançamento.


Convite para o Lançamento do Livro "O Futuro do Diabetes" do Dr Carlos Eduardo Barra Couri


domingo, 3 de julho de 2011

É possível se "fabricar" células-tronco embrionárias a partir de outras células adultas?

Esta pergunta é de se espantar, não é?  Mas saiba que é possível sim e elas têm um nome: iPS (do inglês, induced pluripotent stem cell)

Em 2007 pesquisadores de Tóquio criaram uma pesquisa super-interessante. Eles pegaram células da pele de uma pessoa e as fizeram crescer em laboratório. Em seguida, inoculou nestas células um virus que continha genes que faziam estas células da pele se reprogramar e se "transformarem" em células embrionárias.

Em 2011, pesquisadores da Harvard, Estados Unidos, replicaram este feito com uma grande vantagem: eles inocularam o material genéticos nas células sem necessidade do vírus e sem expor as células aos possíveis efeitos colaterais da infecção viral.

Mas quais são as perspectivas?

1- Não precisaríamos usar embrões para adquirir células-tronco e evitaríamos quaisquer questões religiosas e éticas;

2- Poderíamos utilizar iPS de células da pele do próprio paciente, evitando assim rejeição;

2- Poderíamos criar órgãos com o DNA do paciente.


Quanto ao seu uso em pacientes diabéticos, não há data para início das pesquisas em humanos, mas é bom deixar claro 2 coisas:

a) No diabetes tipo1, não adianta regeneramos as células produtoras de insulina sem atuarmos no sistema imunológico (lembrem-se de que o diabetes tipo 1 é uma doença autoimune!)

b) No diabetes tipo 2, não adianta usar células-tronco para regenerar as células produtoras de insulina nestas pacientes se o paciente mantiver-se sedentário e com aumento de circuferência abdominal.

Vamos aguardar cenas dos próximos capítulos.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Projeto Educando Educadores da ADJ /SBD

Em nosso blog, sempre tento explorar as novas tecnologias que temos em mãos no momento e que estão por vir. Entretanto, de nada adianta novas insulinas, novos medidores de glicose, uso de células-tronco se os pacientes não entendem o diabetes.
Infelizmente o diabetes é uma doença que envolve muitos mitos e por isto, na minha opinião, a EDUCAÇÃO é tudo.

Neste sentido a Associação de Diabetes Juvenil e Sociedade Brasileira de Diabetes realizaram vários eventos de educação para pessoas que vão ensinar o paciete diabético a entender a doença e se cuidar melhor. Este projeto se chama EDUCANDO EDUCADORES. Ou seja, este projeto ensina como educar um paciente diabético.
Já houve 13 edições ao longo de todo o Brasil e finalmente chega uma edição em Ribeião Preto -SP.Trata-se de um curso teórico/prático em que os conhecimentos são transferidos de forma clara, objetiva, vivencial e completamente participativa (veja figura abaixo).
É claro que, para o paciente diabético, é fundamental também a curiosidade, a vontade de aprender e entender.

Saiba mais informações no site da ADJ (http://www.adj.org.br/)  e no site da SBD (http://www.diabetes.org.br/) .

SEM INFORMAÇÃO NÃO ADIANTA TECNOLOGIA!


domingo, 19 de junho de 2011

Lançado o Projeto Emagrece Brasil

Sabemos das intempéries provocadas pelo excesso de peso. Infelizmente a obesidade não é apenas um acúmulo de tecido gorduroso inerte. A gordura infelizmente produz substâncias inflamatórias e que provocam a resistência à ação de insulina.
Qual a melhor maneira de medir a gordura? Quem respondeu balança ERROU. Hoje, a gordura mais importante a ser medida é a gordura localizada na barriga.  A gordura que estou falando não é aquela debaixo da pele (subcutânea). Estou falando daquela gordura localizada dentro da barriga, ao redor das nossas vísceras. Trata-se daquela famosa barriga "dura".
Muitas vezes o paciente parece até ser magro, mas quando tira a camisa surge aquela barriga saliente.
O limite da barriga é 80cm para mulheres e 90cm para homens.
A barriga pode trazer diversos problemas, como por exemplo:
- diabetes tipo 2;
- hipertensão;
- alteração de colesterol e triglicérides;
- gota (associada ao aumento de ácido úrico)
- apnéia do sono;
- alguns cânceres como de inestino, próstata, etc.
- infarto;
- derrame cerebral (AVC)

Estima-se que cerca de metade dos brasileiros esteja acima do peso. METADE. Em pouco tempo, será mais comum estarmos acima do peso.

Quais os maiores vilóes para o surgimento da obesidade? Entre eles estão sedentarismo, horas assistindo TV, horas usando computador, uso de carro e ônibus para tudo, ingesta excessiva de alimentos.

Por isto, na minha opinião, a obesidade não é apenas um problema médico. Medidas de saúde geral como educação, locais adequados para prática de exercícios como praças e quadras públicas, aulas na escola para crianças explicando maneiras de melhor se alimentar e se exercitar estão nas principais frentes para reverter a "epidemia" de obesidade.

Além de medidas públicas de incentivo, iniciativas privadas sção muito bem recebidas. Uma das mais promissoras é o Projeto Emagrece Brasil.

Em 17 de junho de 2011 foi lançado pela revista Saúde e Boa Forma da Editora Abril num coquetel em estavam presentes o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, representantes dos Ministérios da Educação e Esportes, Gilberto Kassab (prefeito de São Paulo) e o presidente da Editora Abril, Robeto Civita. Estavam presentes médicos e pessoas que direta ou indiretamente atuam no tratamento da obesidade e suas complicações.

Obviamente que eu apóio esta iniciativa da Editora Abril e torço para que surjam iniciativas ainda maiores de outras empresas privadas.

Para saber mais sobre o Projeto Emagrece Brasil acesse http://www.emagrecebrasil.com.br/

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lições aprendidas num dos melhores Centros de Diabetes da Atualidade

Do dia 3 a 8 de maio uma seleta comitiva esteve em visita ao principal centro de diabetes da atualidade, o Texas Diabetes Institute dirigido pelo endocrinologista Ralph Defronzo.

Este centro se localiza na cidade de San Antonio, Texas. Esta cidade tem cerca 1,5 milhão de habitantes (65% de mexicanos) e até 1980 não era referência em quase nada em termos de saúde. Neste ocasião o Dr Ralph Defronzo se desligou do importante Hospital Geral de Massachusetts por problemas pessoais e migrou para San Antonio.

Não por coincidência, San Antonio é uma das cidades mais obesas dos Estados Unidos. Lá o Dr DeFronzo desenvolveu uma importante parcela do que se conhece hoje sobre os mecanismos relacionados ao diabetes tipo 2, resistência insulínica e falência de células beta produtoras de insulina. Além disso, a produção científica atual é fantástica em termos inclusive de novos medicamentos.

Interessante é que a Unversidade que este centro se coliga é muito desconhecida porém o centro é tão importante que suplanta esta possível discrepância.

O mais intrigante é que, a parte de todo o desenvolvimento científico local,  a cidade é de médio porte e todos os pacientes que se tratam lá usam os melhores e últimos lançamentos para diabetes tipo 2. Eles pagam o que podem e se não podem pagar nada, não pagam nada. 

Marcou-me o luxo das acomodações, a ausência de filas, o respeito aos pacientes e aos profissionais de saúde.

A pergunta que vem é: como este centro se sustenta? Este centro se sustenta em parte pelos trabalhos ligados à indústria farmacêutica, em parte pelos cursos que faz e pela doação da prefeitura local.

Em suma, a lição que aprendi foi que para ter um serviço de diabetes de alto nível, não importa a cidade ou a universidade coligada, mas sim disposição para o trabalho, organização, e a vontade de desvendar os segredos desta epidemia que é o diabetes.

domingo, 1 de maio de 2011

Menos picadas na hora de medir a glicose diariamente

O importante  e tradicional MIT (Massachusetts Institute of Technology) localizado na mesma avenida da Universidade de Harvard em Boston dá um passo em direção a uma melhor qualidade de vida para os pacientes diabéticos.

Está em fase avançada o aparelho qye emite luz infravermelha para medição de glicose subcutânea (e não a glicose sanguínea). Estas ondas penetram cerca de meio milímetro na pele do antebraço ou dos dedos e o que o aparelho mede é a glicose contida no tecido subcutâneo destes locais.

Hoje em dia uma das maiores tarefas é fazer os pacientes medirem a glicose o número necessário de vezes ao dia. Claro que os lancetadores de hoje são bastante delicados, mas um dispositivo completamente indolor e não-invasivo seria muito bem-vindo ao mercado, especialmente para crianças muito pequenas.

De fato, o diabetes é uma situação silenciosa e a única forma de avaliarmos com certeza o valor da glicose é medindoa glicose. Alguns pacientes precisam medir mais vezes e outros, menos vezes. Por isto, tudo que facilita a vida dos diabéticos é de grande valia.

Veja abaixo a foto da haste medidora do aparelho desenvolvido pelo MIT. Eles ainda não mencionaram possível data de lançamento. Mas estamos de olho:
Medidor de glicose infravermelho, sem picadas

sábado, 16 de abril de 2011

Mais um Curso "Diabetes & Células-tronco"

Nos dias 15 e 16 de abril eu e o Prof Júlio Voltarelli tivemos o prazer de receber um grupo de médicos para mais um curso sobre este inovador e interessante tema que é a Terapia Celular e o diabetes. Neste edição, recebemos médicos de Ribeirão Preto e outras cidades do interior de São Paulo como Assis, Marília, Bauru, Taquaritinga, Bebedouro, etc.
Como sempre, o intuito do curso é mostrar as novidades, perspectivas e também nossas dúvidas e dificuldades no tema. Como a maioria dos médicos não estudou o tema terapia celular, o nosso intuito também é promover nestes médicos uma iniciação ao tema e sempre ligado ao diabetes.

Como o ideal dos nossos cursos é promover uma discussão bilateral ente professor e platéia o número máximo de médicos não ultrapassa 25.
Contamos ainda com excelentes aulas e discussões promovidas pela Endocrinologista Dra Ângela Leal, pela biomédica  e mestranda Mariana Devanso e pela bióloga e doutoranda Juliana Ueda.
Médicos puderam visualizar as famosas células-tronco mesenquimais ao microscópio e também o Banco de Sangue de Ccorsão Umbilical de Ribeirão Preto.
Vejam algumas fotos de nosso curso abaixo.
  
 
Médicos participantes do Curso
em 15 e 16 de abril de 2011

Laboratório com microscópios
 para visualização
de células-tronco mesenquimais

Curso Diabetes & Células-tronco
Dr Carlos Eduardo Couri e
Dr Julio Voltarelli
                    

Banco de Sangue de
Cordão Umbilical



 





quinta-feira, 7 de abril de 2011

Bate-papo com o Presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes


Página inicial da Sociedade Brasileira de Diabetes
 Esta semana, foi publicada no site diabetes.org um bate-papo com o nosso amigo Dr Saulo Cavalcanti, atual presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes. Neste bate-papo abordamos o que já realizamos com nossas pesquisas com células-tronco no tratamento do diabetes e o que está por vir.

Acesse na íntegra em http://goo.gl/H4Daa .

sábado, 26 de março de 2011

Por que o transplante de células-tronco não é cura do diabetes tipo 1 ?

Desde as primeiras notícias na mídia leiga sobre os estudos de nosso grupo da USP-Ribeirão Preto, muitas pessoas fazem um link entre transplante de células-tronco e cura do diabetes tipo 1. Ó óbvio que a cura é o principal objetivo de qualquer médico ou pesquisador.

Devemos nos lembrar porém que o diabetes tipo 1 é uma alteração crônica da glicemia e da secreção de insulina e seu tratamento baseia-se em alguns pilares que são:
1- Compreensão  e aceitação da doença;
2- Alimentação saudável;
3- Exercícios físicos regulares;
4- Insulinoterapia;
5- Monitorização de glicose

Como pode-se ver, o que conseguimos no transplante até hoje é suspender o uso de insulina em vários pacientes ao longo do tempo. Porém, em nossas pesquisas, recomendamos veementemente que nossos pacientes mantenham a atividade física regular, alimentação saudável e medição regular das glicemias capilares.

Temos pacientes que ficaram livres de insulina por longo período e retomaram o uso de insulina novamente. Certamente, em muitos casos, se o paciente tivesse seguido as recomendações adequadamente ele conseguiria ficar ainda mais tempo sem usar insulina.

Com muita frequencia recebo no consultório pacientes diabéticos ou seus familiares dizendo que procuram o transplante de células-tronco porque não aceitam o diabetes e querem viver sem ele. Nestes casos, faltam-lhes o alicerce básico para o correto tratamento do diabetes e sem este alicerca não podemos fazer nada.

O transplante de células-tronco não é uma fuga, mas sim uma pesquisa muito séria que avalia uma das principais promessas da humanidade (células-tronco) no tratamento de uma doença comum que é o diabetes tipo 1.

Quem nos procura tentando viver a vida chamada "normal" geralmente comete um grande engano. Estas pessoas muitas vezes acham normal comer doce e açúcar diariamente; acham normal comer aqueles biscoitinhos condimentados repletos de gordura e sal; acham normal comer fast-food com frequencia; acham normal ser sedentários e comer coxinha e esfiha no recreio da escola; acham normal almoçar e repetir o prato 2 ou 3 vezes e nem sequer comer uma verdura ou um legume.

O que nós queremos é que nossos pacientes tenham uma vida saudável e com qualidade de vida, níveis de glicemia adequados e muita disposição para viver aceitando o diabetes e não vendo-o como um inimigo, mas sim como um aliado. Tenho muitos pacientes que melhoraram muito após o diabetes. Graças ao diabetes que eles hoje se preocupam realmente com uma vida saudável.

Vamos refletir...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Fim da reunião de Chicago - Em que pé o Brasil está em comparação à Europa e à América do Norte no uso de células-tronco para Diabetes?

Acabo de chegar de mais um meeting promovido pela Northwestern University em Chicago. Esta importante universidade norte-americana tem o maior número de transplante de células-tronco para tratamento de doenças autoimunes do mundo. Eles já fizeram mais de 400 transplantes e as doenças transplantadas incluem lúpus eritematoso, artrite reumatóide, doença de Crohn, esclerose múltipla, esclerose sistêmica e outras doenças autoimunes.

Neste encontro de 2 dias com pesquisadores dos Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido e Suécia o tempo foi subdividido para discussões e para mostrar a experiência de cada grupo com cada doença em específico.

Em meio a diversas "feras" mundiais estávamos eu e o Prof Júlio Voltarelli  representando o Brasil (vide foto abaixo).

Da esquerda para a direita: Dr Sandeep Jain (USA), Dr Júlio Voltarelli (Brasil), Dr Richard Burt (USA), Dr Jean-François Gautier (França), Dr Jan Storek (Canadá), Dra Dominique Farge Bancel (França) , Dr Carlos Eduardo Couri (Brasil) e Dr John Snowden (Reino Unido)

Alguns fatos merecem destaque neste meeting:
1- Apesar de os Estados Unidos (FDA) terem aprovado nosso protocolo para uso de células-tronco para diabetes tipo 1, eles não têm nenhuma experiência em humanos nem mesmo a poderosa Harvard University;

2- Por incrível que pareça, os únicos grupos no mundo até o momento com unidades exclusivas para tratamento de doenças autoimunes com células-tronco são a Northwestn University de Chicago e o HC Ribeirão Preto - USP.

Obviamente que a terapia celular ainda é um tema muito controverso no geral, mas neste meeting destacou-se o fato de sermos o único grupo convidado com experiência em humanos com diabetes tipo 1.

Outros grupos no mundo que estão replicando nossa pesquisa são Universidade de Varsóvia na Polônia e de Nanjing na China. estes 2 grupos juntos estudaram menos de metade dos pacientes que já tivemos. Estes grupos ñão foram convidados.

Mas por que o Brasil está na frente?
Tanto no transplante com quimioterapia+células-tronco hematopoéticas como o transplante de células mesenquimais somos pioneiros mundiais e certamente nossa legislação sobre ética em pesquisa com células-tronco maduras (não-embrionárias) está muito avançada.
O ponto-chave para isto é sem dúvida a capacidade inovadora inerente ao Brasil e pelo fato de nos "virarmos da forma que dá", apesar de todas as dificuldades.

Retorno deste encontro com muita força para continuar com ainda mais afinco. Nossa estrutura ainda deixa a desejar em relação os países desenvolvidos no momento. Imagine só se tivéssemos apoio financeiro que eles têm? Lembre-se de que estou falando de uma Escola Médica localizada no interior de São Paulo.

Pena que no Brasil todos os pesquisadores acabam tendo que se "virar nos 30" para conseguir realizar sonhos, mudar a vida das pessoas e ter produção científica de alto nível.

Mas este é o caminho!  ...  Vamos em frente ! ....

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O que todo paciente deve saber sobre diabetes tipo 2

Apesar de não haver dados estatísticos recentes, estima-se que o diabetes tem prevalência de cerca de 11% da população brasileira. Cerca de 90-95% dos casos são de diabetes tipo 2.

No diabetes tipo 2 o principal defeito é a resistência à ação da insulina produzida pelo pâncreas. Vale lembrar que a insulina é o hormônio que empurra a glicose do sangue para dentro de todas as nossas células. Com esta resistência, o pâncreas acaba tendo de produzir mais insulina para ter o efeito desejado e esta sobrecarga pode levá-lo à exaustão e consequente elevação da glicose no sangue.

Ao contrário do diabetes tipo 1, o diabetes tipo 2 pode ser previnido e caso necessite tratamento, pode ser feito muitas vezes com poucos remédios e até mesmo, em alguns casos, somente com reorientação alimentar e exercícios.

Mas afinal, o que provoca esta resistência insulínica? As causas são várias, mas segue abaixo uma pequena lista:
- fatores genéticos
- obesidade abdominal
- sedentarismo
- tabagismo
- alta ingesta de gorduras trans
- envelhecimento

Se você parar para pensar você verá que a maioria de nós se enquadra em algum dos fatores listados acima.

Infelizmente esta resistência insulínica não causa somente o diabetes tipo 2, mas também pode provocar gota, hipertensão, colesterol e triglicérides alterados, acúmulo exagerado de gordura no fígado e até mesmo certos tipos de cânceres parecem estar associados como o de próstata, mama e intestino.

Quanto mais cedo o paciente se habitua a fazer check-up melhor. Lembramos que os exames de rotina devem ser iniciados em todos a partir dos 20 anos de idade. Naqueles com hístória de diabetes na família, devem ter sua glicemia e demais exames feitos a partir dos 10 anos de idade.

Devido ao fato de estas doenças não induzirem sintomas´agudamente, é comum que um determinado paciente permaneça anos com diabetes tipo 2 sem ao menos sentir nada e isto pode lhe trazer complicações seríssimas no futuro próximo.

Culturalmente ainda existe um ditado que quando se vai ao médico a gente acaba encontrando problemas. Se analisarmos do ponto de vista simplista isto é verdade. Porém, se analisarmos de forma correta, veremos que é melhor termos um diagnóstico precoce e um tratamento eficaz do que um diagnóstico tardio e sem possibilidades de reversão do quadro.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Por que meu pâncreas não produz insulina?

Freqüentemente no consultório recebo pacientes com diabetes tipo 1 de longa duração. O fato interessante é que a grande maioria dos pacientes não sabe ao certo como o diabetes se desenvolve, mesmo sendo portadores  há muitos anos.   
Para começar a explicar devemos relembrar do sistema imunológico. Este sistema imunológico é responsável pelas defesas naturais de nosso organismo contra vírus, bactérias, vermes,  etc. Com ele nós entramos em contato com inúmeros agentes infecciosos a cada minuto sem desenvolver qualquer tipo de sintoma.  Apenas para dar um exemplo, o sistema imunológico funciona como se fosse um policial que protege nosso organismo.
No caso do diabetes tipo 1, o sistema imunológico ficou louco. É isto mesmo! Em vez de ele somente proteger o nosso organismo ele resolve também atacar as células produtoras de insulina localizadas no pâncreas chamadas células β. Este fato é denominado autoimunidade. Com isto, as células β são destruídas e não produz a insulina tão necessária para a nossa sobrevivência.
Ninguém sabe ao certo o motivo pelo qual o sistema imunológico resolve atacar o próprio organismo, as células β.  O que se sabe é que a culpa é 30% da genética e 70% dos fatores ambientais.
Atualmente a teoria mais aceita para o desenvolvimento do diabetes tipo 1 é a seguinte:  
Há tempos atrás (meses ou anos) o paciente entra em contato comum determinado vírus que tem semelhanças com as células β produtoras de insulina. O sistema imunológico então começa a destruir os vírus porém, devido à grande semelhança entre o vírus e as células β, o sistema imunológico começa equivocadamente a agredir as células β.
Fato interessante é que conforme frisado acima este processo de auto-destruição se inicia meses a anos antes da eclosão dos sintomas.  A massa de células β é gradualmente destruída até que o percentual destruído é tão grande que a capacidade secretora de insulina se reduz muito e se iniciam os sintomas como beber muita água, urinar muito e perder peso.
O que não sabemos até hoje é quais são os genes exatamente relacionados ao diabetes tipo 1  e por que alguns pacientes desenvolvem o diabetes e por que outros pacientes não desenvolvem.  Não sabemos também quais vírus ou outros agentes que desencadeiam este processo.
VAMOS NOS MANTER INFORMADOS E CONHECER BEM ESTE TAL DIABETES TIPO 1. MESMO NÃO SENDO MÉDICOS, OS PACIENTES TÊM O DEVER DE ENTENDER TODO O PROCESSO!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

E o Pâncreas Artificial?

O pâncreas artificial é um sonho de muitos anos que vem se concretizando a cada dia. 
De aparelhos gigantescos não transportáveis dos anos 80 aos modelos atuais superpráticos e acessíveis, muito coisa aconteceu.
Conversando com muitos pacientes meus, uma das maiores argumentações relacionada ao desconforto de ser diabético não está nas aplicações de insulina, medições de glicose ou dieta. Para muitos, o maior problema é ter ritual para cada refeição, ou seja,  ter de contar carboidratos, medir glicemia antes e após a refeição a aplicar a insulina conforme a contagem.  Todo este ritual para muitos é muito entediante tendo em vista que é repetido diariamente várias vezes ao dia.
Muitas vezes este ritual toma a atenção dos pacientes em momentos que eles gostariam de estar focados em outros no trabalho ou estudos, por exemplo.
Na foto abaixo está um exemplo de pâncreas artificial utilizado em estudos com pacientes diabéticos intra-hospitalares durante cirurgias de longa duração. O artigo científico que o mostrou foi publicado em 2009.


                                          



Este aparelho mede a glicemia venosa continuamente e automaticamente o aparelho infunde glicose ou insulina diretamente na veia conforme um algoritmo.
Para quem vê a imagem parece um aparelho grande e monstruoso, mas é um bom exemplo de como a ciência progride a passos largos. Um dos grandes desafios é o algoritmo de aplicação de insulina, pois a infusão automática depende de vários fatores como velocidade de subida ou descida das glicemias, peso, resistência à insulina ou não  e segurança do aparelho.
Outro ponto crucial é desenvolver um modelo que seja aplicável no dia –a-dia de todos, prático, indolor, discreto e confiável.
Na foto abaixo está um dos últimos modelos para uso ambulatorial. Os últimos modelos divulgados em 2010 já promoviam aplicação tanto de insulina como de glucagon nos cateteres de infusão e os resultados foram muito animadores nas pesquisas iniciais. 



Este equipamento azul, um pouco grande, é o dispositivo que calcula a necessidade de insulina, através de um algorítmo, a partir das leituras recebidas do sensor de glicose e envia para a bomba.
É importante destacar que o pâncreas artificial, assim como o transplante de células-tronco não é sinônimo de cura do diabetes, mas uma maneira diferenciada de controle da doença.
Isto não significa que o paciente pode comer tudo o que quer na quantidade que quer. O pâncreas artificial é apenas uma maneira mais fácil e cômoda de se obter controle glicêmico adequado.
Devemos deixar claro que com os esquemas atuais de insulina é possível se obter um excelente controle glicêmico. Apesar de muitos confundirem, as bombas de infusão de insulina disponíveis comercialmente não são o pâncreas artificial pois a dose de insulina aplicada depende do comando e do cálculo do próprio paciente.
Um problema que o pâncreas artificial não resolveu foi a aceitação do diabetes.
Quem teima em fugir ou negar ou brigar contra o diabetes não vai conseguir  vantagem alguma com os novos avanços da medicina. Nenhuma nova tecnologia vai substituir o bom senso, a aceitação, uma dieta adequada e uma prática de exercícios físicos regulares. 
Vamos ficar atentos com as novidades!
Assim que eu souber de mais novidades estarei postando em primeira mão aqui no blog.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Ninguém noticiou e muitos nem se lembraram, mas na tragédia do Rio havia e ainda há muitos diabéticos necessitando de ajuda


Ninguém deve ter se "tocado", mas imaginem só que no meio à enorme tragédia habia um grande número de pessoas portadoras de doenças crônicas. Imaginem só uma pessoa que precisa de realizar hemodiálise no meio a este mar de lama. Imaginem o paciente com insuficiência cardíaca. 

Neste mesmo sentido, imaginem só pacientes diabéticos isolados e sem acesso a medicação ou sem geladeira para armazenar a insulina. 

No link abaixo uma médica endocrinologista que trabalha na região fornece seu depoimento ao site da Sociedade Brasileira de Diabetes. Ouçam a entrevista:  http://goo.gl/sUfZE

sábado, 22 de janeiro de 2011

O paciente diabético deve ser independente. Não há escolha!

Não há dúvidas de que um dos maiores desenvolvimentos do século XX foi a insulinoterapia. Tenho certeza de que os pesquisadores canadenses Banting & Best , em 1922, nem imaginariam o que repercutiu a pesquisa deles ao longo dos anos. E isto foi muito além do Prêmio Nobel que a pesquisa rendeu.

Até este ano de 1922 os diabéticos tipo 1 tinham sobrevida de meses ou anos. Graças às injeções de insulina que este quadro mudou. Graças a esta inovação pacientes diabéticos tipo 1 hoje têm qualidade de vida igual ou até mesmo melhor do que a de muitos não diabéticos.

Hoje atendi uma paciente de 10 anos de idade, super-inteligente, ativa, que está escrevendo um livro sobre diabetes que certamente será um sucesso nas bancas. Até hoje nunca conheci uma criança de 10 anos preocupada em escrever um livro.

Para minha surpresa, ela me disse que sua mãe aplicava a insulina. Sinceramente fiquei pasmo, pois ela sabia a dose adequada para aplicar, sabia o que fazer de acordo com os valores da glicose, sabia a importância do diabetes e sabia manusear a caneta de aplicação. Em outras palavras, ela sabia coisas bem mais difíceis, mas não fazia o mais básico que era a autoaplicação

Este é apenas um exemplo dentre vários do dia-a-dia do consultório. Há pacientes adultos que ainda não se autoaplicam a insulina.

A autoaplicação é fundamental pois faz o paciente lembrar de que ele é autônomo, suficiente e que não há necessidade de ser ajudado. Não há dúvidas de que mãe, pai, irmão têm o maior prazer em aplicar a insulina no paciente diabético. Mas a questão não é esta...

Aos parentes que têm "pena" do paciente diabético: o grande legado ou ajuda que você pode fazer para o seu paciente diabético é ensiná-lo a ser completamente independente. Sendo independente o paciente poderá dormir na casa de colegas, viajar, briancar e estudar com mais tranquilidade. Não tenho dúvidas de que o amor de quem cuida do paciente diabético é tão grande que eles poderia fazer as aplicações diárias sem problemas e para o resto da vida, mas a questão não é esta e sim a independência do paciente.

É óbvio que em pacientes muito novos não há como haver a autoaplicação e é claro que cada caso é um caso. A autaplicação deve ser iniciada com monitorização dos pais e de acordo com a dose indicada por eles. Tenho pacientes com 7 anos que já fazem isto, mas repito: cada caso é um caso.

Hoje temos canetas de aplicação de insulina super-modernas, fáceis, praticamente indolores (indolores mesmo) e com preço mais acessível.  Mesmo as tradicionais seringas atualmente estão bem menos dolorosas. Com as canetas de aplicação torna-se muito mais fácil o paciente pediátrico, idosos e deficientes visuais a fazer a aplicação de insulina, pois as canetas têm marcação de 1 em 1 unidade (algumas são de 0,5 em 0,5 unidades), dão um clique tátil e sonoro em cada unidade e é mais prática para transportar (não necessitando ficar em caixas com gelo quando em ambientes frescos).

Por fim, para quem se identificou com este texto, amanhã é hora de começar vida nova.

É hora de se iniciar o processo de independência!