domingo, 8 de abril de 2012

A escola e o trabalho muitas vezes são um entrave para o tratamento do diabetes !


             Passamos boa parte de nossas vidas estudando e trabalhando. Como doença não tem hora vaga, os cuidados com a saúde devem permear nossas obrigações diárias. Felizmente, o diabético está apto a concluir suas etapas educacionais e a traçar infinitos planos de carreira como qualquer outra pessoa. O distúrbio em si não pode ser considerado um fator limitante para o desenvolvimento acadêmico ou profissional — salvo se estiver completamente descompensado. É por isso que pessoas com diabetes não devem ser tratadas com regalias ou poupadas de certos compromissos. Elas merecem ser cobradas da mesma forma que aquelas livres do problema, sejam médicas, advogadas, atletas, artistas...

            O crescimento no número de diabéticos, inclusive crianças, cobra das escolas e das empresas uma nova exigência: abordar a doença dentro de suas dependências. Para começo de conversa, ter diabetes não deveria ser visto como um critério para seleção de um aluno ou de um candidato para determinada vaga. Por falar nisso, sabemos que frequentemente pessoas omitem em entrevistas de emprego portar o distúrbio. Trata-se de um erro, uma vez que futuros descompassos nos níveis de glicose, como hipoglicemias ou hiperglicemias, podem ocorrer em ambiente de trabalho e ninguém vai saber do que se trata nem como agir se não for avisado.

            Aliás, essa devia ser uma regra básica: que os colegas de trabalho ou, no caso do colégio e da universidade, outros alunos, professores e orientadores pedagógicos saibam que o indivíduo é diabético, inclusive para se familiarizar com procedimentos corriqueiros exigidos pelo tratamento, como medições de glicose e aplicações de insulina. Isso evita situações constrangedoras e ainda habilita as pessoas a prestarem ajuda, se preciso.

            A presença de funcionários ou de alunos diabéticos reforça ainda mais a necessidade de se discutir o problema — inclusive para que toda essa gente espalhe o conhecimento adquirido à família e aos amigos. Por que não fazer uma semana do diabete na escola? Por que não promover palestras e workshops, convidando médicos e pacientes a falar do assunto? Esses são exemplos de estratégias importantes para divulgar informação, uma ferramenta essencial à prevenção de novos casos da doença, ao diagnóstico precoce e ao estímulo de um controle adequado. São oportunidades de derrubar mitos, tirar dúvidas e compartilhar experiências. Momentos propícios para disseminar o que é um estilo de vida saudável.

            A atenção e os cuidados com o diabete não deveriam entrar apenas na agenda de atividades da escola. Precisam fazer parte do seu dia a dia. O ideal é que os  funcionários do colégio sejam treinados para reconhecer possíveis sinais e manifestações do problema na criançada. Sabe aquela história do garoto que pede toda hora para ir ao banheiro? Nem sempre é travessura, vontade de matar aula. Será que o professor sabe que urinar em excesso é sintoma de diabete? A figura do mestre tem extrema importância na detecção do distúrbio na infância. Além disso, todo professor deveria estar apto a lidar com alunos diabéticos, inclusive para estimular, se necessário, o monitoramento da glicose ou as injeções de insulina, além de explicar a situação aos coleguinhas. Esse contato mais próximo melhora inclusive a adesão ao tratamento.

            Toda escola conta com educação física na grade de matérias, certo? Isso é ótimo, mas por que nem sempre há uma disciplina de orientação alimentar? Defendo que também é papel do colégio instruir o aluno a se alimentar direito. Seria uma grande arma contra o surto de obesidade que acomete cada vez mais crianças, tornando-as mais expostas ao diabetes tipo 2. Infelizmente, o que ainda vemos são cantinas oferecendo salgadinhos e guloseimas, redutos de gordura, sal e açúcar. A mudança precisa começar com o conteúdo do que é ofertado aos alunos na hora do recreio — e inclusive no momento de montar a lancheira, que deve vir recheada de frutas, pão integral, iogurtes... A luta contra o diabetes — e em prol do controle do distúrbio —depende de educação e divulgação de conhecimento. Existe melhor lugar que a escola para incentivar essa tarefa?