Vale à pena lembrar que até aquele momento, pacientes diabéticos tipo 1 tinham sobrevida de poucos meses e, quando muito, alguns anos.
O cirurgião Banting morava em uma cidadezinha no Canadá chamada London e não era ligado ao meio acadêmico. Subitamente teve a idéia de submeter animais a um procedimento cirúrgico que seria capaz de destruir quase todo o pâncreas mas deixaria sobrar apenas as partes responsáveis pela produção de insulina (as ilhotas).
Banting pediu ajuda ao professor de Fisiologia da Universidade de Toronto chamado McLeod que achou a idéia estranha mas cedeu seu laboratório precário e alguns cães para os experimentos. Recomendou também um aluno chamado Best para lhe ajudar nos experimentos.
Felizmente em cerca de 1,5 ano o hormônio protéico chamado insulina foi isolado e aplicado em animais e pela primeira vez em uma cadelinha chamada Marjorie e depois de um período em um menininho chamado Leonard Thompson.
Logo em 1923 receberam o Prêmio Nobel de Medicina.
Na ocasião a imprensa noticiou a descoberta como a cura do diabetes. Mal sabiam que não era a cura , mas im um grande passo para o controle e a prevenção das complicações desta doença.
Chamou minha atenção a memória do povo canadense. Nem percebi, mas quando um amigo me alertou fiquei estarrecido de ver que na nota de 100 dólares canadenses (a nota de maior valor no país) havia a imagem de um frasco de insulina. Talvez o motivo de eu ter ficado estarrecido foi o fato de ver que naquele país eles têm memória e ver que eles sabem valorizar seus grandes nomes, mesmo que tenham se passado 90 anos.
Fato interessante é que após o isolamento da molécula de insulina, o laboratório farmacêutico americano Eli Lilly se juntou ao grupo canadense e começou a produção e distribuição me larga escala da insulina de origem animal pelo mundo, tornando esta descoberta local em um medicamento que salvaria vidas em todo o globo terrestre.
Obviamente que muita coisa evoluiu ao longo destes 90 anos.
Hoje nossos pacientes diabéticos dispõem de insulinas desenvolvidas por engenharia genética, agulhas finíssimas, canetas de aplicação de insulina, discretas e pequenas, bombas de infusão contínua de insulina, aparelhos medidores de glicemia pequenos e rápidos e contagem de carboidratos para facilitar a dieta.
Felizmente o Brasil tomou um papel de destaque nesta história dando o ponta-pé inicial no uso de células-tronco na tentativa de melhorar ainda mais a qualidade de vida dos portadores de diabetes tipo 1.
Que esta curta história sirva de estímulo os diabéticos de hoje se cuidarem melhor. Que todos vejam que estamos vivendo num momento de grande explosão do conhecimento. Estamos na era das células-tronco e também na era de diversas outras pesquisas como a insulina inteligente (Smart Insulin), pâncreas artificial, medidores de glicemia com infra-vermelho, etc.
Encorajo a todos que se cuidem, que aceitem o diabetes e façam o tratamento adequadamente para poder ter a chance de experimentar e utilizar as diversas novidades que estão por chegar até nós em poucos anos (poucos anos mesmo). Vamos nos cuidar bem hoje para podermos desfrutar do que vem por aí.
Vejam abaixo algumas fotos e fatos interessantes que relatei no texto acima.
Boa semana!!
Manuscrito original do Dr Banting sobre como conseguir isolar a molécula de insulina
Dr Banting e o estudante Best com a cadela Marjorie, que recebeu a primeira injeção do extrato de pâncreas
Nota de 100 dólares canadienses com o frasco de insulina
Laboratório de fisiologia na Universidade de Toronto onde banting e Best trabalhartam
Leonard Thompson, o primeiro a receber injeções de insulina. Foto antes e depois do uso do uso da insulina.
Prêmio Nobel de Medicina concedido a Banting e Mc Leod em 1923 (Best não foi condecorado, pasmem!)
Seringa de aplicação de insulina do ano de 1926.