Hematologista e Imunologista de formação, com simplesmente 3 pós-doutorados nos Estados Unidos, foi ele que em 2003 teve a grande ideia de iniciar no Hospital das Clínicas da USP – Ribeirão Preto, o primeiro estudo em humanos no mundo avaliando o efeito do Transplante Autólogo de Células-tronco hematopoéticas para o tratamento do diabetes tipo 1. Na realidade a formação do grupo e a sua materialização se deu após sua conversas com o importante imunologista americano Dr. Richard Burt que havia pensado no projeto mas não o colocara em prática. Lembro-me muito bem como se fosse hoje quando nos reunimos pela primeira vez para discutirmos sobre as bases do “reset imunológico” envolvido no transplante e sua vibração com o tema. Para um jovem pesquisador como eu que estava iniciando suas andanças eu diria que fui um privilegiado por tê-lo ao meu lado.
Impressionante sua capacidade de liderança e de aglutinação de uma equipe formada por mais de 50 profissionais. Em momento algum se colocava como superior e argumentava e aceitava contra-argumentações de terceiros com a maior desenvoltura.
Quando iniciamos o projeto em Diabetes Tipo 1 o grupo de transplante já tinha expertise no tema de imunomodulação com outras doenças como esclerose múltipla, lupus, artrite reumatóide, esclerodermia, etc.
Graças e ele e a todos da equipe fui o escolhido para ter a chance de suspender insulina de vários pacientes diabéticos tipo 1 envolvidos na pesquisa e a cada paciente que nós tínhamos êxito ele queria cada vez mais e mais resultados. Este trabalho nos rendeu além de inúmeras histórias, 2 publicações originais no concorridíssimo JAMA com direito a editoriais nas publicações. Ainda neste protocolo testamos o efeito da medicamentos inibidores da enzima DPP-4 nos pacientes que retomaram o uso de insulina e conseguimos com sucesso ineditamente suspender insulina novamente em mais 3 pacientes.
Devido à excelente repercussão e à seriedade dos nossos estudos, meios de comunicação como New York Times, Times, Le Monde, Reuters deram destaque ao nosso estudo liderado por ele.
Não contente com os resultados deste primeiro protocolo, em 2008 deu início à pesquisa com células-tronco mesenquimais também para diabetes tipo 1. Neste protocolo usamos células-tronco adultas porém sem necessidade de quimioterapia.
Em 2011 conseguimos aprovação do protocolo de transplante autólogo de células-tronco hematopoéticas pelo FDA aglutinando centros reconhecidos em Chicago (Northwestn University com o Dr Richard Burt) e Paris (Hospital Sr Louis com a Dra Dominique Farge). Vale destacar que nós no Brasil, na maioria das vezes, replicamos estudos desenhados no exterior e desta vez nós é que tivemos este papel mais nobre.
Não contente, numa de nossas últimas reuniões deixou no gatilho uma importante pesquisa em humanos sobre com Transplante de Células mesenquimais para o diabetes tipo 2. Porém desta vez participando também sua esposa e também nossa amiga endocrinologista a Prof Ângela Leal da Universidade Federal de São Carlos que já vem realizando experimentos em modelos animais de diabetes tipo 2.
Já não bastasse tudo isto, tratava-se ainda de um amigo leal, grande mestre, grande líder.
Certamente sua ausência será notada nos diversos seguimentos da medicina nacional, especialmente a Diabetologia, mas todos teremos o dever de manter aceso seu nome e seu legado de agora em diante.
Descanse em paz!
Carlos Eduardo Barra Couri